TES #6: O que o lançamento de um satélite de madeira para o espaço e a construção industrializada têm em comum?
Por trás desse feito está a Sumitomo Forestry, uma construtora centenária do Japão e referência global em construção modular.
Na semana passada, o primeiro satélite de madeira do mundo foi lançado ao espaço. Pode até parecer algo que saiu diretamente de um filme futurista, mas a verdade é que a proposta vai além: testar o uso de materiais renováveis em condições extremas fora da Terra. Por trás desse feito está a Sumitomo Forestry, uma construtora centenária do Japão e referência global em construção modular.
Com uma história que remonta ao século XVII e uma receita anual que ultrapassa os US$ 10 bilhões, a empresa evoluiu de uma atuação em manejo florestal para se tornar uma potência na construção civil, aplicando madeira e técnicas de industrialização em arranha-céus, centros habitacionais e agora, até no espaço.
Mas como uma empresa tradicional se torna pioneira em construções futuristas? Isso é o que vamos conferir ao longo desta edição da TES.
Highlights do conteúdo:
Mais de 300 anos de história com foco em construção modular e métodos inovadores;
Lançamento do LignoSat, o primeiro satélite de madeira, marcando um avanço no uso de materiais sustentáveis no espaço;
Torre W350, em Tóquio: premiada no MIPIM por sua construção em madeira;
Expansão no mercado americano com planos para construir 10 mil residências ecológicas anuais até 2027;
Presença global com portfólio diversificado, incluindo projetos como centros de pesquisa e complexos residenciais;
Parcerias estratégicas e tecnologias como CLT para acelerar construções em até 40%, reduzindo emissões de carbono em larga escala.
Uma breve linha do tempo: do manejo florestal à construção modular de larga escala
A trajetória da Sumitomo Forestry é um exemplo de adaptação e inovação ao longo dos séculos. Desde sua fundação no Japão no século XVII, a empresa evoluiu de um negócio focado no manejo florestal sustentável para se tornar uma referência global em construção modular.
Abaixo, vamos explorar os seus marcos principais:
1. Origens no manejo florestal e produção de madeira
Fundada no século XVII no Japão, a Sumitomo Forestry começou como uma empresa de manejo florestal, focada em práticas de extração de madeira. Esse primeiro passo consolidou seu compromisso com a preservação ambiental, sendo pioneira em reflorestamento e manejo sustentável na Ásia.
Atualmente, no Japão, a empresa possui e gerencia mais de 48 mil hectares de florestas próprias, cultivadas com práticas de reflorestamento que mantêm um balanço de carbono positivo.
Além disso, a Sumitomo contribui para a conservação de florestas naturais no exterior, gerenciando aproximadamente 250 mil hectares de áreas protegidas em países como Indonésia e Papua-Nova Guiné, reforçando seu compromisso com o meio ambiente e a biodiversidade global.
Atualmente, em todos os seus projetos, a Sumitomo Forestry prioriza a eficiência energética e o conforto térmico. A utilização de madeira como isolante natural contribui para a regulação da temperatura interna dos edifícios, reduzindo a necessidade de aquecimento ou resfriamento artificial. Essa abordagem não só diminui o consumo de energia, mas também reduz as emissões de carbono ao longo da vida útil das construções.
Além disso, a empresa investe em tecnologias de ponta para monitorar e otimizar o desempenho energético de seus edifícios, garantindo que atendam aos mais altos padrões de sustentabilidade e conforto para os usuários.
2. Expansão para construção em madeira -> adoção de tecnologias sustentáveis e construção modular
No início do século XX, a empresa começou a atuar na construção em madeira, aproveitando seu conhecimento na produção e manipulação do material. O foco inicial era construir estruturas residenciais no Japão, reforçando a madeira como um recurso renovável e acessível para habitação local.
Já a partir das décadas de 1990 e 2000, a Sumitomo Forestry ampliou sua presença global e passou a adotar tecnologias inovadoras, como a construção modular.
A construtora foi uma das pioneiras na adoção da tecnologia CLT, que utiliza camadas de madeira dispostas perpendicularmente para criar estruturas com alta resistência e flexibilidade. Em projetos residenciais e comerciais, a empresa combina o uso de CLT com outras tecnologias modulares, resultando em construções de alta eficiência.
A técnica utilizada por eles permite que edifícios sejam montados de forma rápida, reduzindo o tempo de construção em até 40% em comparação com métodos convencionais.
Um exemplo marcante é o edifício W350, em Tóquio, planejado para ser um arranha-céu de madeira com 350 metros de altura e 70 andares, que destaca o potencial da CLT em construções de larga escala. Este projeto não só será o edifício de madeira mais alto do mundo, mas também visa reduzir o impacto de CO₂ em até 40%, em comparação com construções de aço e concreto.
A torre, que foi premiada no MIPIM em 2020 (spoiler: onde inclusive estaremos em missão internacional em 2025 👀), simboliza um avanço radical na construção modular e na engenharia de madeira, estabelecendo novos padrões de arquitetura para edifícios urbanos de grande porte.
🌳 Estima-se que sua a estrutura exija cerca de 185 mil metros cúbicos de madeira, toda proveniente de florestas de manejo sustentável.
Além de ser uma alternativa ambientalmente correta ao concreto e ao aço, a Torre W350 oferece uma nova visão estética e funcional para edifícios urbanos. Seu design incorpora varandas verdes em todos os andares, criando uma interação harmoniosa entre a natureza e o ambiente construído, e proporcionando uma experiência única aos ocupantes e à cidade de Tóquio. Esses espaços verdes, distribuídos ao longo dos 70 andares, ajudam a melhorar a qualidade do ar, reduzir a temperatura local e oferecer um ambiente agradável e restaurador em meio à vida urbana.
3. Inovações de ponta e expansão global
Nos últimos anos, a Sumitomo Forestry tem ampliado seu portfólio, incorporando projetos de grande escala que abrangem centros de pesquisa, hospitais, escolas e empreendimentos residenciais e comerciais. Essa diversificação é acompanhada pela integração de práticas de construção modular, que aceleram o desenvolvimento de seus projetos.
Entre eles, destacam-se:
Wellith Park, Japão: em colaboração com a NTT Urban Development, a Sumitomo Forestry desenvolveu o Wellith Park, um complexo residencial que incorpora práticas sustentáveis e design inovador. O projeto destaca-se pelo uso de materiais ecológicos e eficiência energética, proporcionando um ambiente saudável para os residentes;
Gehan Homes, Estados Unidos: a Sumitomo Forestry expandiu sua atuação internacional adquirindo a construtora texana Gehan Homes. Essa aquisição permitiu à empresa aplicar suas práticas sustentáveis no mercado norte-americano, oferecendo residências que combinam design moderno com eficiência energética;
Ainda nos EUA, a Sumitomo Forestry também anunciou planos para desenvolver 10 mil unidades residenciais de aluguel por ano até 2027, focando em habitações sustentáveis e acessíveis;
Na Austrália, em 2024, a empresa adquiriu 51% das ações da Metricon, a maior construtora de residências do país, por aproximadamente US$ 79 milhões. Essa aquisição posiciona a Sumitomo como líder no mercado australiano, com mais de 7.000 unidades habitacionais construídas anualmente.
O LignoSat: o avanço da construção modular na exploração espacial
Em 2024, a Sumitomo Forestry, em parceria com a Universidade de Kyoto e a SpaceX, lançou o LignoSat, o primeiro satélite feito de madeira, inaugurando uma nova era de possibilidades para a construção além da Terra. Esse projeto pioneiro vai além de apenas um experimento científico, mas sinaliza a visão ousada da Sumitomo para o futuro: explorar o potencial da construção modular em ambientes espaciais.
Ao desenvolver o LignoSat, a Sumitomo avança na ideia de expandir a presença da madeira e de técnicas modulares em ambientes extremos. Essa abordagem não só destaca a versatilidade dos materiais, mas também posiciona a Sumitomo como uma das poucas construtoras a considerar o espaço como uma extensão dos projetos modulares que já realiza na Terra.
Desenvolvido para enfrentar as duras condições espaciais, o LignoSat foi construído com honoki, uma madeira tradicional japonesa, reconhecida pela durabilidade, resistência à umidade e baixo peso — características ideais para suportar variações de temperatura e exposição à radiação.
🔎 Por que o honoki?
Essa madeira é valorizada no Japão há séculos, especialmente para a fabricação de bainhas de espadas e utensílios que requerem robustez sem comprometer a leveza. Para o LignoSat, o honoki oferece uma alternativa eficiente aos materiais convencionais, com o diferencial de ser completamente biodegradável.
Diferentemente dos satélites convencionais, que liberam partículas de alumínio e criam detritos espaciais ao reentrar na atmosfera, o LignoSat é inteiramente incinerado, sem deixar resíduos nocivos. Esse projeto revela o potencial da madeira para futuras aplicações em ambientes extremos e levanta uma nova perspectiva para o uso de recursos renováveis em missões espaciais.
Com a crescente preocupação global sobre os impactos ambientais da exploração espacial, o LignoSat representa um passo importante em direção a tecnologias de menor impacto ambiental.
E tem mais…
A ambição da Sumitomo Forestry e da Universidade de Kyoto vai além deste experimento.
Em uma visão de longo prazo, a empresa projeta a construção de habitações e infraestruturas de madeira na Lua e em Marte, aproveitando a durabilidade desse material em ambientes onde a baixa umidade e a ausência de oxigênio retardam seu desgaste natural.
Com um plano de 50 anos, a Sumitomo Forestry visualiza a madeira como um componente central na criação de ambientes habitáveis sustentáveis fora da Terra, trazendo à tona novas possibilidades para a colonização espacial com práticas que respeitam o ecossistema terrestre.
Sendo assim, esse projeto não apenas expande as fronteiras da engenharia e ciência de materiais, mas também alimenta as expectativas para futuras construções modulares no espaço. A madeira, particularmente o honoki, dada sua resistência, pode servir como um material estruturante tanto para satélites quanto para habitações extraterrestres. No contexto da construção modular, esse material permite uma montagem rápida e versátil, essencial para missões de longa duração e espaços habitáveis.
Da terra ao espaço: lições da Sumitomo Forestry para o futuro da habitação
A trajetória da Sumitomo Forestry deixa claras algumas lições valiosas para o setor da construção:
Versatilidade na construção modular: a empresa mostrou como a madeira e a construção modular podem ser aplicadas em escalas ambiciosas, desde arranha-céus em centros urbanos até soluções para o espaço, ampliando o impacto de suas inovações;
Sustentabilidade integrada ao core business: com práticas que vão além do tradicional, a Sumitomo integra sustentabilidade desde o plantio até o ciclo completo de suas obras, consolidando seu papel como referência em responsabilidade ambiental e em construção de baixo impacto;
Visão de longo prazo: seja com o LignoSat, W350 ou com suas expansões internacionais, a empresa aposta em inovação contínua e visão de futuro. Isso reforça a importância de um planejamento estratégico que acompanha e até antecipa mudanças no setor.
Assim, a Sumitomo Forestry mostra que é possível alinhar tradição e modernidade, usando inovação modular para enfrentar os desafios globais e abrir caminhos para o futuro da construção, na Terra e além.
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